A personagem veio de lá de trás
pelo meio da floresta de cadeiras
e foi sentar-se na primeira das filas
ao lado da outra personagem.
As luzes apagaram-se de repente
e de repente as personagens acederam à luz
e saltaram incandescentes para o palco.
Para um palco que ninguém viu então,
para um palco que nunca ninguém viu.
Pedro Tamen, in Relâmpago, n.º25
quinta-feira, 29 de abril de 2010
sábado, 24 de abril de 2010
Sound Bites...
"Um dos direitos dos tiranos é falar quando lhes apetece e não deixar nunca falar quem tem argumentos para lhe opor" (Creonte em Antígona de António Pedro)
*
*
"A tua sombra será mais pesada que nenhum olhar." (Antígona de António Pedro)
Antígona de António Pedro | direcção cénica de Nuno M. Cardoso
No final da leitura encenada, houve ocasião para conversar com os actores e com Nuno M. Cardoso.
Duas Antígonas - a de Sófocles e a de António Pedro - um só cenário.
Um desafio que Nuno M Cardoso e os actores do Ballet Teatro contornaram, trazendo para o palco a Grécia actual. As pedras que os alunos trouxeram inspiraram-se na actualidade.
***
Diz António Pedro: “Nesta glosa, a Grécia é apenas um pretexto cénico. A acção passa-se, realmente, no palco em que for representada, isto é: na imaginação de cada um”.
Outros emparedamentos
A Última Dona de São Nicolau (Episódios da História do Porto no Século XV) foi publicada em 1864. A acção decorre em 1474 e faz-nos assistir à revolta popular que expulsa do Porto o fidalgo Rui Pereira pela violação do privilégio concedido aos burgueses de não permitirem a permanência de nobres dentro dos seus muros por mais de três dias. Este romance põe em destaque o relacionamento entre duas raças no Portugal medievo, através de um amor pecaminoso entre um judeu e uma cristã. Esta relação dá origem ao nascimento de uma filha, o que motiva o"emparedamento" da mãe como penitência e, finalmente, a conversão ao cristianismo do rico Eleazar, após um longo período de dúvida e sofrimento.
(Ana Maria dos Santos Marques, in Histórias com História:as personagens de Arnaldo Gama)
Capela de N.S. da Silva
"Foi o padre Augusto de Vasconcelos, na sua "Descriptione Lusitaniae", e o bispo D. Rodrigo da Cunha, no seu "Catálogo dos Bispos do Porto", que registaram a lenda da Senhora da Silva. Diz antiga tradição que andando-se, no século XII, em tempo de D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, a abrir os alicerces para a construção da Catedral, foi encontrada, entre uns silvados, uma imagem de pedra à qual foi dado o nome de Senhora da Silva. Foi tão grande a devoção que aquela rainha devotou à imagem que, quando morreu, D. Mafalda, conta Rodrigo da Cunha, deixou-lhe "todos os vestidos e louçaínhas que em seu guarda roupa se achassem e de que, ainda hoje (1623 é a data da edição do Catálogo) se conservam algumas no tesouro e mostram quanto menor era a vaidade daqueles que destes tempos, e de quão pouco se contentavam as rainhas portuguesas…" Na Catedral existe o altar de Nossa Senhora da Silva representada por uma grande imagem de pedra mas ninguém sabe se é a da tradição. Sob a invocação da Senhora da Silva funciona ainda na Rua dos Caldeireiros uma Irmandade que noutros tempos foi administrada exclusivamente por ferreiros, serralheiros e ofícios afins." (A lenda da Senhora da Silva)
sábado, 17 de abril de 2010
Artistas entre Artistas
Primeira fila:
Emília Silvestre, Cátia, Jorge Mota, Lígia Roque, Maria do Céu Ribeiro, Bárbara, Juliana, Raquel, Filipa, Cristiana, Ana Isabel, Cátia, Joana Ribeiro, Joana Dias, Mafalda e Inês.
Segunda fila:
Paulo Freixinho, Tiago Sousa, João Castro, Pedro Almendra, António Durães, Alexandra Gabriel e José Eduardo Silva.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
“Glosa Nova da Tragédia de Sófocles”, António Pedro
Hémon:
O coração não se reparte, ou não pode repartir-se quando se dá todo duma vez. Coração só temos um, e, quando o damos inteiro, o que sobra é fingimento. Não é isso o que me pedes nem aquilo que queria dar-te... Amo Antígona.
“Glosa Nova da Tragédia de Sófocles”, António Pedro
Nuno Carinhas: O homem tranquilo (POR JOANA LOUREIRO)
O homem tranquilo
Do teatro enquanto banda desenhada por ilustrar, à direcção artística do S. João, o percurso em voz baixa de Nuno Carinhas, um artista multifacetado
POR JOANA LOUREIRO, 8 de Abril de 2010
Há quem reprima pulsões e ignore vocações. E quem as abrace e assuma uma personalidade caleidoscópica.
O currículo de Nuno Carinhas, 55 anos, não deixa margem para dúvidas. À cabeça, exibe os títulos de pintor, cenógrafo, figurinista e encenador. Lendo mais atentamente, surgem colaborações com alguns nomes sonantes da classe artística portuguesa, ligações a múltiplas companhias de teatro, participações episódicas em quase todas as artes. Desde Fevereiro de 2009, assumiu um lugar de peso, a direcção artística do Teatro Nacional S. João (TNSJ). Para o seu antecessor, Ricardo Pais, «o Nuno vive escondido por detrás de um currículo absolutamente extraordinário. Conhece-se pouco a pluralidade das suas valências».
Agora, viu-se forçado a sair da sombra e contrariar o temperamento discreto. Quem lida com ele na intimidade revela o sentido de humor apurado, o requinte e cultura muito abrangente, os pés leves de dançarino, os dotes de observador agudo. A génese do eclectismo remonta à infância. «Tive um percurso e oportunidades muito diferentes das crianças que me rodeavam», conta. Filho único, nascido e criado em Lisboa, desde os 5 anos acompanhava os pais nas lides do teatro amador e sentava-se na plateia de vários espectáculos. «Passei da banda desenhada para o teatro, onde os quadradinhos em branco eram preenchidos com a nossa imaginação, porque os diálogos já lá estavam.» Perdia-se na imensa biblioteca da família, e partilhava das inúmeras discussões à mesa de um grupo próximo dos católicos progressistas.
Na hora de escolher uma formação, as indecisões foram inevitáveis. «Os testes psicotécnicos revelaram-se completamente inconclusivos, embora houvesse uma componente artística contemplada », recorda. Optou por Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
«Estava a passar por uma fase bastante mais intimista do que seria desejável para a área do teatro.»
O currículo de Nuno Carinhas, 55 anos, não deixa margem para dúvidas. À cabeça, exibe os títulos de pintor, cenógrafo, figurinista e encenador. Lendo mais atentamente, surgem colaborações com alguns nomes sonantes da classe artística portuguesa, ligações a múltiplas companhias de teatro, participações episódicas em quase todas as artes. Desde Fevereiro de 2009, assumiu um lugar de peso, a direcção artística do Teatro Nacional S. João (TNSJ). Para o seu antecessor, Ricardo Pais, «o Nuno vive escondido por detrás de um currículo absolutamente extraordinário. Conhece-se pouco a pluralidade das suas valências».
Agora, viu-se forçado a sair da sombra e contrariar o temperamento discreto. Quem lida com ele na intimidade revela o sentido de humor apurado, o requinte e cultura muito abrangente, os pés leves de dançarino, os dotes de observador agudo. A génese do eclectismo remonta à infância. «Tive um percurso e oportunidades muito diferentes das crianças que me rodeavam», conta. Filho único, nascido e criado em Lisboa, desde os 5 anos acompanhava os pais nas lides do teatro amador e sentava-se na plateia de vários espectáculos. «Passei da banda desenhada para o teatro, onde os quadradinhos em branco eram preenchidos com a nossa imaginação, porque os diálogos já lá estavam.» Perdia-se na imensa biblioteca da família, e partilhava das inúmeras discussões à mesa de um grupo próximo dos católicos progressistas.
Na hora de escolher uma formação, as indecisões foram inevitáveis. «Os testes psicotécnicos revelaram-se completamente inconclusivos, embora houvesse uma componente artística contemplada », recorda. Optou por Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
«Estava a passar por uma fase bastante mais intimista do que seria desejável para a área do teatro.»
terça-feira, 6 de abril de 2010
promessa de antígona a polinices, João Mancelos
(figurinos de Antígona)
promessa de antígona a polinicesum dia hás-de amanhecer,
entre os rostos naufragados de tebas,
e as estrelas por navegar.
irmão, um dia hás-de amanhecer.
chamar-te-ei pelo nome que esqueceras
e derreterei o bronze dos teus olhos.
tudo será limpo e incendiado
e os navios recordarão o mapa
de regresso ao cais.
eu sei: um dia hás-de amanhecer.
contra o poder dos homens da cidade,
contra as leis contrárias
ao centro e músculo do amor,
um dia hás-de amanhecer.
até lá, não tens leito nem morte
e é a noite quem chove sobre ti.
João de Mancelos
Antígona e a lei dos homens, José Tolentino Mendonça
Antígona e a lei dos homens
Estava tão quieta que podia
reconstruir o tempo instante a instante
a história desse sofrimento
as confidências da casa grande
- onde se via já velha e sozinha -
o sobressalto das ameaças
O mundo girava muito mais leve
ou teria ela aprendido
como se ultrapassa o medo
sentia-se arrastada
não por palavras duras
antes uma espécie de alegria
em alguma parte
quando se perguntava:
«que foi que perdi?»
Com os olhos fechados, calmos
porque não saberia mais a que ligá-los
sentava-se na penumbra
e esta estranha paz
era diante dos infortúnios
o seu único poder
José Tolentino Mendonça
Édipo teve uma filha, e vive no Porto (Ipsilon)
Antígona, a filha de Édipo, é a grande figura da temporada do Teatro Nacional São João. Uma geração e 300 quilómetros depois, a história continua, mas por outros meios, a partir de 26 de Março.
Quando Nuno Carinhas começou a juntar à mesa de uma sala do Teatro Dona Maria II, em Lisboa, os actores com quem vai à Grécia Antiga fazer sangue na primeira "Antígona" da vida do Teatro Nacional São João (TNSJ), o "Rei Édipo" de Jorge Silva Melo já tinha pernas para andar, e andava, cinco andares abaixo, mais perto do palco onde tem vida própria desde ontem. Durante semanas, o Édipo de Jorge Silva Melo e a Antígona de Nuno Carinhas moraram na mesma casa, como pai e filha (que é o que são na realidade, se quisermos levar a ficção a sério). Depois, cada um foi à sua vida.
Antígona, de António Pedro
3.º Velho: [Esta é] a tragédia de quem se recusa a obedecer à lei em nome duma lei que é superior aos homens.
2.º Velho: Que é superior às circunstâncias em que os homens fazem certas leis.
1.º Velho: A tragédia da liberdade.
Antígona, de António Pedro
Dia 16 de Abril vamos ver...
Nuno M Cardoso dirige – numa acção de “formação em acto”, que congregará actores da Casa e alunos do Balleteatro Escola Profissional – uma leitura encenada da “Antígona” de António Pedro, devolvendo-a ao lugar da sua estreia em 1954, no então denominado São João Cine. Sobre esta sua “pirandelliana” revisão da matéria dada, adverte-nos o autor: “Nesta glosa, a Grécia é apenas um pretexto cénico. A acção passa-se, realmente, no palco em que for representada, isto é: na imaginação de cada um”.
Os filhos de Édipo [Expresso, 27 de Março]
por Valdemar Cruz
[Expresso, 27 de Março]Nunca sobe à cratera. Creonte nunca desde aos subterrâneos. Antígona nunca desiste, quando o mais fácil seria ceder. Creonte percebe tarde de mais a dimensão da tragédia criada pelo labirinto da sua intransigência. Antígona é mulher e clama o direito de dizer ‘não’ num tempo governado por homens. Creonte é um tirano cheio de dúvidas. Antígona não tem medo de morrer. Creonte desejaria ser tragado pelo vulcão que no cenário se impõe como metáfora maior do turbilhão contido neste conflito feito de contradições, mágoas e ressentimentos. Num tempo tão despojado de valores éticos, políticos ou morais, não deixa de alguma nobreza de carácter”. Não era uma anarquia organizada, materializada no empunhar de bandeiras pretas, “mas anarquia no sentido de contra a corrente”, sublinha Nuno Carinhas.
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