sábado, 15 de maio de 2010

Escolas Teatro




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sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Príncipe de Homburgo

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"Isso é  inovador em Kleist, é o que torna o seu universo realmente específco. Keats falou de negative capability, a capacidade de suportar a angústia da incerteza e de não correr para as soluções (isto é sonho, aquilo não é), e Kleist anula, de facto, esse ponto de vista securizante, dando ‑nos um universo em que, embora nem todas as personagens sejam sonâmbulas, há doses maciças de sonambulismo." (Luísa Costa Gomes)


"O mais intrigante nas pessoas kleistianas é que elas são bastante mais subtexto do que texto (e o texto já é maravilhoso!). Tal como as pessoas fora das peças de teatro, estas dizem uma coisa e fazem outra; são egocêntricas e desconhecem‑se por completo; parece que estão permanentemente a falar para se convencerem de qualquer coisa; ou apenas para ouvir o que têm a dizer ‑se. "(Luísa Costa Gomes)

O Príncipe de Homburgo







"Se um homem atravessasse o Paraíso em um sonho e lhe dessem uma flor como prova de que estivera ali, e ao acordar encontrasse essa flor em sua mão... O que pensar?" Coleridge

Escolas No Teatro - Teatro Carlos Alberto (Sala de Vidro) 15 | 28 Maio 2010



   "Nenhum cerco pode ser-me imposto aqui", José Bento

Fora de Portas é a cartografia possível  de um trabalho feito nas margens dos textos,  nas margens do Teatro, nas margens das emoções.
Fora de Portas é a gaveta onde guardamos o percurso de um ano. Um ano em que nos interessou pensar  a  ideia de margem, de fronteira:  o lado B (B de Bastidores, B de Cerco, B de uma cidade que diz beijo-te, quando quer dizer vejo-te).
Em Fora de Portas, pensamos o Teatro  enquanto respiração.
Pensamos no diálogo entre as luzes do palco e as sombras dos bastidores;  pensamos na suavidade da alcatifa e na aspereza do cimento; pensamos no fausto  do lobby e na exiguidade dos camarins.  Um cruzar de mundos num só espaço. Não é só o mundo que é um palco. O mundo é também bastidor, é também avesso.
O blogue Fora de Portas  é  uma gaveta irmã do  cercARTE (blogue principal). É aí que guardamos as nossas memórias, as nossas histórias, os nossos apontamentos em redor, não só  do Teatro que vimos, mas também daquele Teatro  que sonhamos. Guardamos a primeira visita ao TNSJ, memórias de O Breve Sumário da História de Deus, do Ano do Pensamento Mágico, de O Deus da Matança, de  Antígona de António Pedro e de Sófocles, do Príncipe de Homburgo, mas não só. Há também lugar para os clássicos, um projecto de partilha de leituras entre nós [10.º ano] e uma turma do 4.º ano [EB1/JI da Corujeira].

"bocado de sonho que se tornou corpo”


Depois de "Breve Sumário da História de Deus", de Gil Vicente, de "O Ano do Pensamento Mágico", "O Deus da Matança", de Yasmina Reza, de "Antígona" de António Pedro, "Antígona" de Sófocles, vamos assistir a "O Princípe de Homburgo", de Kleist, um autor já nosso conhecido (aqui).
Hoje, 21.30, no Teatro Carlos Alberto.
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O Príncipe Sonâmbulo


"A acção começa na véspera da Batalha de Fehrbellín.Homburgo, incansável, vem perseguindo, àcabeça da Cavalaria, os suecos de Wrangel emfuga. Chegado a Fehrbellín, atira‑se sobre a palha,para descansar umas horas. Mas é traído pelo seu sonambulismo… e vem, dormindo, para o jardimdo palácio, tecer uma coroa de louros; o amigo Hohenzollern, avisado do sucedido, aparece como Eleitor Frederico, a Eleitora e Natália d’Orange, princesa holandesa, sobrinha do Eleitor, tambémela órfã, e fugitiva, agora acolhida na corte doBrandeburgo. Hohenzollern denuncia, em jeitode brincadeira, diante da “família adoptiva” do Príncipe, aquele “mau hábito do espírito” de Homburgo. Ali onde está, sonhando com a glória nabatalha do dia seguinte, já deixou partir a Cavalaria que ele próprio comanda. Quando vê a coroa de louros pronta, a ideia de uma brincadeira inocente atravessa o espírito do Eleitor. Tira a coroa das mãos do Príncipe e entrega‑a a Natália, para que proceda ela a uma coroação jocosa. Mas o sonho do Príncipe e a realidade da brincadeira parecem seruma e a mesma, e Homburgo, ainda sonâmbulo,levanta‑se, chama Natália, parece reconhecer o Eleitor e a mulher; persegue‑os enquanto todos recuam atabalhoadamente, perplexos e assustados.Na perseguição, querendo arrancar a coroa de louros das mãos de Natália, é apenas uma luva o que eleconsegue agarrar. Esta brincadeira inocente e estaluva (“bocado de sonho que se tornou corpo”) são, como é de regra em Kleist, os pormenores pilares do drama. 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

domingo, 9 de maio de 2010

Proscénio, Miguel-Manso



Proscénio

o poema é antes de tudo
um palco para gestos simples
eu rego as flores em Junho

Miguel-Manso

domingo, 2 de maio de 2010

O mundo, Um palco | José Bento

O mundo, Um palco | José Bento
 All the world's a stage
Shakespeare, As you like it

Para a Eunice Muñoz

Que aberto este recinto e magnífico!
Sobre umas tábuas o mundo no seu jogo:
movo-me, respiro, crio gestos,
saboreio o sal da fala, meus ouvidos
comunicam-me vida- a que entreteço
e a rajada que desponta de outros
em túmido rumor, pulso que aperto.



Sei que o exterior existe, espaço hostil,
sufocante de máscaras: olhos, mãos,
palavras de metal que cegamente
encenam uma ficção cruel:
uma baça repetição, o pérfido
quotidiano, num papel que se oficia
entre um acordar aceite e sem escolha
e a treva que fascina e apavora.


Nenhum cerco pode ser-me imposto aqui:
parto em busca de todos, mesmo desses
que não conheço: por eles afoito
meu intenso trânsito num corpo
alheio sempre, obscuro, a desvendar-nos
a profundeza comum que nos liberta.



Tantos seres fui, sou: em todos eles
me dispo de vacilante identidade
que em mim suspeito e aniquilo;
terei de reconhecer que a minha morte
inteira lhes pertence e sobre a fronte
só reflicto sua fragância de grinalda.


Na falésia deste palco, onde o mistério
nunca é mentira mas voz a desvendar,
pressagio o naufrágio
que sobre um espelho há-de trazer-me
o rosto único meu, que jamais vi.


Se eu nunca o descobrir, quem de entre vós
ousa moldá-lo no que de si lhe revelei
e entregar-mo, já sem nenhum nome?,


perfil de estrelas que oferenda em seu contorno
a música pela qual a terra ascende.


José Bento, in Silabário