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sábado, 10 de abril de 2010

Nuno Carinhas: O homem tranquilo (POR JOANA LOUREIRO)


O homem tranquilo

Do teatro enquanto banda desenhada por ilustrar, à direcção artística do S. João, o percurso em voz baixa de Nuno Carinhas, um artista multifacetado

POR JOANA LOUREIRO, 8 de Abril de 2010


Há quem reprima pulsões e ignore vocações. E quem as abrace e assuma uma personalidade caleidoscópica.
O currículo de Nuno Carinhas, 55 anos, não deixa margem para dúvidas. À cabeça, exibe os títulos de pintor, cenógrafo, figurinista e encenador. Lendo mais atentamente, surgem colaborações com alguns nomes sonantes da classe artística portuguesa, ligações a múltiplas companhias de teatro, participações episódicas em quase todas as artes. Desde Fevereiro de 2009, assumiu um lugar de peso, a direcção artística do Teatro Nacional S. João (TNSJ). Para o seu antecessor, Ricardo Pais, «o Nuno vive escondido por detrás de um currículo absolutamente extraordinário. Conhece-se pouco a pluralidade das suas valências».
Agora, viu-se forçado a sair da sombra e contrariar o temperamento discreto. Quem lida com ele na intimidade revela o sentido de humor apurado, o requinte e cultura muito abrangente, os pés leves de dançarino, os dotes de observador agudo. A génese do eclectismo remonta à infância. «Tive um percurso e oportunidades muito diferentes das crianças que me rodeavam», conta. Filho único, nascido e criado em Lisboa, desde os 5 anos acompanhava os pais nas lides do teatro amador e sentava-se na plateia de vários espectáculos. «Passei da banda desenhada para o teatro, onde os quadradinhos em branco eram preenchidos com a nossa imaginação, porque os diálogos já lá estavam.» Perdia-se na imensa biblioteca da família, e partilhava das inúmeras discussões à mesa de um grupo próximo dos católicos progressistas.
Na hora de escolher uma formação, as indecisões foram inevitáveis. «Os testes psicotécnicos revelaram-se completamente inconclusivos, embora houvesse uma componente artística contemplada », recorda. Optou por Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
«Estava a passar por uma fase bastante mais intimista do que seria desejável para a área do teatro.»