sábado, 5 de fevereiro de 2011
Brincadeiras perversas (Expresso Actual, 05 Fev 2011, Page 17)
Brincadeiras perversas
Texto Claudia Galhós
Expresso Actual
05 Fev 2011
O autor é perverso ao pôr adultos a fazer isto.” Beatriz Batarda está mergulhada na segunda peça em que assina a encenação. “Azul Longe nas Colinas”, estreada em 1979, foi originalmente escrita para televisão por Dennis Potter. A história é a de sete...leia mais...
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Talk Show | Rui Horta | dia 11.01.11
Rui Horta - Talk Show from Dance Umbrella on Vimeo.
Talk Show é uma obra para quatro intérpretes e duas colunas de som. Um questionamento sobre o corpo enquanto sistema comunicante e sobre o seu desaparecimento ao longo da vida no território maior da sua evidência: o amor. Um homem e uma mulher falam um com o outro à frente de uma plateia. As suas linguagens são simultaneamente a voz e o corpo. O corpo é a nossa única propriedade, tudo o que realizamos tem a sua medida, tanto no espaço como no tempo. Talk Show é um road movie do corpo. Um exercício de curiosidade e inquietude perante o desconhecido. aqui
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Hedda, a partir de Hedda Gabler de Henrik Ibsen
[...]
"Lovborg - Escrevi um livro para agradar.
Hedda - Isso é possível?
Lovborg - É mais fácil do que parece. Basta juntar as palavras pela ordem certa.
Hedda - Qual é a utilidade?
Lovborg - Para quem?
Hedda - Para quem lê.
Lovborg - É torna-se útil.
Hedda - Isso parece-me desinteressante."
[...]
Hedda [documentação]
thea: Querias acabar com o quê? Com o livro ou com o Eilert? Quem é que era o alvo a abater? A escrita ou a pessoa? O pai ou o filho? Era eu? Queres voltar atrás?hedda: Voltar atrás?thea: Se gostavas, se é disso que precisas? Tomar outras decisões, voltar atrás, é por isso? Queres estar no meu lugar? Queres sair daqui? Queres ir passear? Andar decomboio? Não queres estar casada? Não queres gostar? Não gostas? O que é quequeres? Queres ser como eu? Queres ser o contrário de mim? Não sabes o que queres?Tens inveja? Tens medo do que está para a frente? Queres ser o quê? Queres parar?Queres disparar? Queres ir para longe? Estar longe das pessoas? Sair desta casa?Queres o quê? Hedda.hedda: Tantas perguntas…thea: Queres que eu continue?hedda: …E nem uma interessa. Nem uma dessas perguntas interessa.thea: Qual é a pergunta então?hedda: Porque é que não gostas de mim?thea: Como?hedda: Porque é que não gostas de ninguém?thea: Estás a falar comigo?hedda: Desde o princípio até ao fim. Fundamentalmente. É esse o meu percurso. É para isso. É por isso. Sou eu que conto a minha história. Mais ninguém. Sou eu que escolho as palavras. Aprende comigo. Vê ‑me a fazer. Talvez um dia sejas capaz. De escrever as tuas próprias palavras.
José Maria Vieira Mendes – Hedda
Mais aqui.
sábado, 15 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
O Príncipe de Homburgo
"
"Isso é inovador em Kleist, é o que torna o seu universo realmente específco. Keats falou de negative capability, a capacidade de suportar a angústia da incerteza e de não correr para as soluções (isto é sonho, aquilo não é), e Kleist anula, de facto, esse ponto de vista securizante, dando ‑nos um universo em que, embora nem todas as personagens sejam sonâmbulas, há doses maciças de sonambulismo." (Luísa Costa Gomes)
"Isso é inovador em Kleist, é o que torna o seu universo realmente específco. Keats falou de negative capability, a capacidade de suportar a angústia da incerteza e de não correr para as soluções (isto é sonho, aquilo não é), e Kleist anula, de facto, esse ponto de vista securizante, dando ‑nos um universo em que, embora nem todas as personagens sejam sonâmbulas, há doses maciças de sonambulismo." (Luísa Costa Gomes)
"O mais intrigante nas pessoas kleistianas é que elas são bastante mais subtexto do que texto (e o texto já é maravilhoso!). Tal como as pessoas fora das peças de teatro, estas dizem uma coisa e fazem outra; são egocêntricas e desconhecem‑se por completo; parece que estão permanentemente a falar para se convencerem de qualquer coisa; ou apenas para ouvir o que têm a dizer ‑se. "(Luísa Costa Gomes)
O Príncipe de Homburgo
"Se um homem atravessasse o Paraíso em um sonho e lhe dessem uma flor como prova de que estivera ali, e ao acordar encontrasse essa flor em sua mão... O que pensar?" Coleridge
Escolas No Teatro - Teatro Carlos Alberto (Sala de Vidro) 15 | 28 Maio 2010
"Nenhum cerco pode ser-me imposto aqui", José Bento
Fora de Portas é a cartografia possível de um trabalho feito nas margens dos textos, nas margens do Teatro, nas margens das emoções.
Fora de Portas é a gaveta onde guardamos o percurso de um ano. Um ano em que nos interessou pensar a ideia de margem, de fronteira: o lado B (B de Bastidores, B de Cerco, B de uma cidade que diz beijo-te, quando quer dizer vejo-te).
Em Fora de Portas, pensamos o Teatro enquanto respiração.
Pensamos no diálogo entre as luzes do palco e as sombras dos bastidores; pensamos na suavidade da alcatifa e na aspereza do cimento; pensamos no fausto do lobby e na exiguidade dos camarins. Um cruzar de mundos num só espaço. Não é só o mundo que é um palco. O mundo é também bastidor, é também avesso.
O blogue Fora de Portas é uma gaveta irmã do cercARTE (blogue principal). É aí que guardamos as nossas memórias, as nossas histórias, os nossos apontamentos em redor, não só do Teatro que vimos, mas também daquele Teatro que sonhamos. Guardamos a primeira visita ao TNSJ, memórias de O Breve Sumário da História de Deus, do Ano do Pensamento Mágico, de O Deus da Matança, de Antígona de António Pedro e de Sófocles, do Príncipe de Homburgo, mas não só. Há também lugar para os clássicos, um projecto de partilha de leituras entre nós [10.º ano] e uma turma do 4.º ano [EB1/JI da Corujeira].
"bocado de sonho que se tornou corpo”
Depois de "Breve Sumário da História de Deus", de Gil Vicente, de "O Ano do Pensamento Mágico", "O Deus da Matança", de Yasmina Reza, de "Antígona" de António Pedro, "Antígona" de Sófocles, vamos assistir a "O Princípe de Homburgo", de Kleist, um autor já nosso conhecido (aqui).
Hoje, 21.30, no Teatro Carlos Alberto.
O Príncipe Sonâmbulo
"A acção começa na véspera da Batalha de Fehrbellín.Homburgo, incansável, vem perseguindo, àcabeça da Cavalaria, os suecos de Wrangel emfuga. Chegado a Fehrbellín, atira‑se sobre a palha,para descansar umas horas. Mas é traído pelo seu sonambulismo… e vem, dormindo, para o jardimdo palácio, tecer uma coroa de louros; o amigo Hohenzollern, avisado do sucedido, aparece como Eleitor Frederico, a Eleitora e Natália d’Orange, princesa holandesa, sobrinha do Eleitor, tambémela órfã, e fugitiva, agora acolhida na corte doBrandeburgo. Hohenzollern denuncia, em jeitode brincadeira, diante da “família adoptiva” do Príncipe, aquele “mau hábito do espírito” de Homburgo. Ali onde está, sonhando com a glória nabatalha do dia seguinte, já deixou partir a Cavalaria que ele próprio comanda. Quando vê a coroa de louros pronta, a ideia de uma brincadeira inocente atravessa o espírito do Eleitor. Tira a coroa das mãos do Príncipe e entrega‑a a Natália, para que proceda ela a uma coroação jocosa. Mas o sonho do Príncipe e a realidade da brincadeira parecem seruma e a mesma, e Homburgo, ainda sonâmbulo,levanta‑se, chama Natália, parece reconhecer o Eleitor e a mulher; persegue‑os enquanto todos recuam atabalhoadamente, perplexos e assustados.Na perseguição, querendo arrancar a coroa de louros das mãos de Natália, é apenas uma luva o que eleconsegue agarrar. Esta brincadeira inocente e estaluva (“bocado de sonho que se tornou corpo”) são, como é de regra em Kleist, os pormenores pilares do drama.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
Proscénio, Miguel-Manso
Proscénio
o poema é antes de tudo
um palco para gestos simples
eu rego as flores em Junho
Miguel-Manso
domingo, 2 de maio de 2010
O mundo, Um palco | José Bento
O mundo, Um palco | José Bento
Que aberto este recinto e magnífico!
Sobre umas tábuas o mundo no seu jogo:
movo-me, respiro, crio gestos,
saboreio o sal da fala, meus ouvidos
comunicam-me vida- a que entreteço
e a rajada que desponta de outros
em túmido rumor, pulso que aperto.
Sei que o exterior existe, espaço hostil,
sufocante de máscaras: olhos, mãos,
palavras de metal que cegamente
encenam uma ficção cruel:
uma baça repetição, o pérfido
quotidiano, num papel que se oficia
entre um acordar aceite e sem escolha
e a treva que fascina e apavora.
Nenhum cerco pode ser-me imposto aqui:
parto em busca de todos, mesmo desses
que não conheço: por eles afoito
meu intenso trânsito num corpo
alheio sempre, obscuro, a desvendar-nos
a profundeza comum que nos liberta.
Tantos seres fui, sou: em todos eles
me dispo de vacilante identidade
que em mim suspeito e aniquilo;
terei de reconhecer que a minha morte
inteira lhes pertence e sobre a fronte
só reflicto sua fragância de grinalda.
Na falésia deste palco, onde o mistério
nunca é mentira mas voz a desvendar,
pressagio o naufrágio
que sobre um espelho há-de trazer-me
o rosto único meu, que jamais vi.
Se eu nunca o descobrir, quem de entre vós
ousa moldá-lo no que de si lhe revelei
e entregar-mo, já sem nenhum nome?,
perfil de estrelas que oferenda em seu contorno
a música pela qual a terra ascende.
José Bento, in Silabário
All the world's a stage
Shakespeare, As you like it
Para a Eunice Muñoz
Sobre umas tábuas o mundo no seu jogo:
movo-me, respiro, crio gestos,
saboreio o sal da fala, meus ouvidos
comunicam-me vida- a que entreteço
e a rajada que desponta de outros
em túmido rumor, pulso que aperto.
Sei que o exterior existe, espaço hostil,
sufocante de máscaras: olhos, mãos,
palavras de metal que cegamente
encenam uma ficção cruel:
uma baça repetição, o pérfido
quotidiano, num papel que se oficia
entre um acordar aceite e sem escolha
e a treva que fascina e apavora.
Nenhum cerco pode ser-me imposto aqui:
parto em busca de todos, mesmo desses
que não conheço: por eles afoito
meu intenso trânsito num corpo
alheio sempre, obscuro, a desvendar-nos
a profundeza comum que nos liberta.
Tantos seres fui, sou: em todos eles
me dispo de vacilante identidade
que em mim suspeito e aniquilo;
terei de reconhecer que a minha morte
inteira lhes pertence e sobre a fronte
só reflicto sua fragância de grinalda.
Na falésia deste palco, onde o mistério
nunca é mentira mas voz a desvendar,
pressagio o naufrágio
que sobre um espelho há-de trazer-me
o rosto único meu, que jamais vi.
Se eu nunca o descobrir, quem de entre vós
ousa moldá-lo no que de si lhe revelei
e entregar-mo, já sem nenhum nome?,
perfil de estrelas que oferenda em seu contorno
a música pela qual a terra ascende.
José Bento, in Silabário
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Fragmentos de um teatro às escuras, Pedro Tamen
A personagem veio de lá de trás
pelo meio da floresta de cadeiras
e foi sentar-se na primeira das filas
ao lado da outra personagem.
As luzes apagaram-se de repente
e de repente as personagens acederam à luz
e saltaram incandescentes para o palco.
Para um palco que ninguém viu então,
para um palco que nunca ninguém viu.
Pedro Tamen, in Relâmpago, n.º25
pelo meio da floresta de cadeiras
e foi sentar-se na primeira das filas
ao lado da outra personagem.
As luzes apagaram-se de repente
e de repente as personagens acederam à luz
e saltaram incandescentes para o palco.
Para um palco que ninguém viu então,
para um palco que nunca ninguém viu.
Pedro Tamen, in Relâmpago, n.º25
sábado, 24 de abril de 2010
Sound Bites...
"Um dos direitos dos tiranos é falar quando lhes apetece e não deixar nunca falar quem tem argumentos para lhe opor" (Creonte em Antígona de António Pedro)
*
*
"A tua sombra será mais pesada que nenhum olhar." (Antígona de António Pedro)
Antígona de António Pedro | direcção cénica de Nuno M. Cardoso
No final da leitura encenada, houve ocasião para conversar com os actores e com Nuno M. Cardoso.
Duas Antígonas - a de Sófocles e a de António Pedro - um só cenário.
Um desafio que Nuno M Cardoso e os actores do Ballet Teatro contornaram, trazendo para o palco a Grécia actual. As pedras que os alunos trouxeram inspiraram-se na actualidade.
***
Diz António Pedro: “Nesta glosa, a Grécia é apenas um pretexto cénico. A acção passa-se, realmente, no palco em que for representada, isto é: na imaginação de cada um”.
Outros emparedamentos
A Última Dona de São Nicolau (Episódios da História do Porto no Século XV) foi publicada em 1864. A acção decorre em 1474 e faz-nos assistir à revolta popular que expulsa do Porto o fidalgo Rui Pereira pela violação do privilégio concedido aos burgueses de não permitirem a permanência de nobres dentro dos seus muros por mais de três dias. Este romance põe em destaque o relacionamento entre duas raças no Portugal medievo, através de um amor pecaminoso entre um judeu e uma cristã. Esta relação dá origem ao nascimento de uma filha, o que motiva o"emparedamento" da mãe como penitência e, finalmente, a conversão ao cristianismo do rico Eleazar, após um longo período de dúvida e sofrimento.
(Ana Maria dos Santos Marques, in Histórias com História:as personagens de Arnaldo Gama)
Capela de N.S. da Silva
"Foi o padre Augusto de Vasconcelos, na sua "Descriptione Lusitaniae", e o bispo D. Rodrigo da Cunha, no seu "Catálogo dos Bispos do Porto", que registaram a lenda da Senhora da Silva. Diz antiga tradição que andando-se, no século XII, em tempo de D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, a abrir os alicerces para a construção da Catedral, foi encontrada, entre uns silvados, uma imagem de pedra à qual foi dado o nome de Senhora da Silva. Foi tão grande a devoção que aquela rainha devotou à imagem que, quando morreu, D. Mafalda, conta Rodrigo da Cunha, deixou-lhe "todos os vestidos e louçaínhas que em seu guarda roupa se achassem e de que, ainda hoje (1623 é a data da edição do Catálogo) se conservam algumas no tesouro e mostram quanto menor era a vaidade daqueles que destes tempos, e de quão pouco se contentavam as rainhas portuguesas…" Na Catedral existe o altar de Nossa Senhora da Silva representada por uma grande imagem de pedra mas ninguém sabe se é a da tradição. Sob a invocação da Senhora da Silva funciona ainda na Rua dos Caldeireiros uma Irmandade que noutros tempos foi administrada exclusivamente por ferreiros, serralheiros e ofícios afins." (A lenda da Senhora da Silva)
sábado, 17 de abril de 2010
Artistas entre Artistas
Primeira fila:
Emília Silvestre, Cátia, Jorge Mota, Lígia Roque, Maria do Céu Ribeiro, Bárbara, Juliana, Raquel, Filipa, Cristiana, Ana Isabel, Cátia, Joana Ribeiro, Joana Dias, Mafalda e Inês.
Segunda fila:
Paulo Freixinho, Tiago Sousa, João Castro, Pedro Almendra, António Durães, Alexandra Gabriel e José Eduardo Silva.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
“Glosa Nova da Tragédia de Sófocles”, António Pedro
Hémon:
O coração não se reparte, ou não pode repartir-se quando se dá todo duma vez. Coração só temos um, e, quando o damos inteiro, o que sobra é fingimento. Não é isso o que me pedes nem aquilo que queria dar-te... Amo Antígona.
“Glosa Nova da Tragédia de Sófocles”, António Pedro
Nuno Carinhas: O homem tranquilo (POR JOANA LOUREIRO)
O homem tranquilo
Do teatro enquanto banda desenhada por ilustrar, à direcção artística do S. João, o percurso em voz baixa de Nuno Carinhas, um artista multifacetado
POR JOANA LOUREIRO, 8 de Abril de 2010
Há quem reprima pulsões e ignore vocações. E quem as abrace e assuma uma personalidade caleidoscópica.
O currículo de Nuno Carinhas, 55 anos, não deixa margem para dúvidas. À cabeça, exibe os títulos de pintor, cenógrafo, figurinista e encenador. Lendo mais atentamente, surgem colaborações com alguns nomes sonantes da classe artística portuguesa, ligações a múltiplas companhias de teatro, participações episódicas em quase todas as artes. Desde Fevereiro de 2009, assumiu um lugar de peso, a direcção artística do Teatro Nacional S. João (TNSJ). Para o seu antecessor, Ricardo Pais, «o Nuno vive escondido por detrás de um currículo absolutamente extraordinário. Conhece-se pouco a pluralidade das suas valências».
Agora, viu-se forçado a sair da sombra e contrariar o temperamento discreto. Quem lida com ele na intimidade revela o sentido de humor apurado, o requinte e cultura muito abrangente, os pés leves de dançarino, os dotes de observador agudo. A génese do eclectismo remonta à infância. «Tive um percurso e oportunidades muito diferentes das crianças que me rodeavam», conta. Filho único, nascido e criado em Lisboa, desde os 5 anos acompanhava os pais nas lides do teatro amador e sentava-se na plateia de vários espectáculos. «Passei da banda desenhada para o teatro, onde os quadradinhos em branco eram preenchidos com a nossa imaginação, porque os diálogos já lá estavam.» Perdia-se na imensa biblioteca da família, e partilhava das inúmeras discussões à mesa de um grupo próximo dos católicos progressistas.
Na hora de escolher uma formação, as indecisões foram inevitáveis. «Os testes psicotécnicos revelaram-se completamente inconclusivos, embora houvesse uma componente artística contemplada », recorda. Optou por Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
«Estava a passar por uma fase bastante mais intimista do que seria desejável para a área do teatro.»
O currículo de Nuno Carinhas, 55 anos, não deixa margem para dúvidas. À cabeça, exibe os títulos de pintor, cenógrafo, figurinista e encenador. Lendo mais atentamente, surgem colaborações com alguns nomes sonantes da classe artística portuguesa, ligações a múltiplas companhias de teatro, participações episódicas em quase todas as artes. Desde Fevereiro de 2009, assumiu um lugar de peso, a direcção artística do Teatro Nacional S. João (TNSJ). Para o seu antecessor, Ricardo Pais, «o Nuno vive escondido por detrás de um currículo absolutamente extraordinário. Conhece-se pouco a pluralidade das suas valências».
Agora, viu-se forçado a sair da sombra e contrariar o temperamento discreto. Quem lida com ele na intimidade revela o sentido de humor apurado, o requinte e cultura muito abrangente, os pés leves de dançarino, os dotes de observador agudo. A génese do eclectismo remonta à infância. «Tive um percurso e oportunidades muito diferentes das crianças que me rodeavam», conta. Filho único, nascido e criado em Lisboa, desde os 5 anos acompanhava os pais nas lides do teatro amador e sentava-se na plateia de vários espectáculos. «Passei da banda desenhada para o teatro, onde os quadradinhos em branco eram preenchidos com a nossa imaginação, porque os diálogos já lá estavam.» Perdia-se na imensa biblioteca da família, e partilhava das inúmeras discussões à mesa de um grupo próximo dos católicos progressistas.
Na hora de escolher uma formação, as indecisões foram inevitáveis. «Os testes psicotécnicos revelaram-se completamente inconclusivos, embora houvesse uma componente artística contemplada », recorda. Optou por Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
«Estava a passar por uma fase bastante mais intimista do que seria desejável para a área do teatro.»
terça-feira, 6 de abril de 2010
promessa de antígona a polinices, João Mancelos
(figurinos de Antígona)
promessa de antígona a polinicesum dia hás-de amanhecer,
entre os rostos naufragados de tebas,
e as estrelas por navegar.
irmão, um dia hás-de amanhecer.
chamar-te-ei pelo nome que esqueceras
e derreterei o bronze dos teus olhos.
tudo será limpo e incendiado
e os navios recordarão o mapa
de regresso ao cais.
eu sei: um dia hás-de amanhecer.
contra o poder dos homens da cidade,
contra as leis contrárias
ao centro e músculo do amor,
um dia hás-de amanhecer.
até lá, não tens leito nem morte
e é a noite quem chove sobre ti.
João de Mancelos
Antígona e a lei dos homens, José Tolentino Mendonça
Antígona e a lei dos homens
Estava tão quieta que podia
reconstruir o tempo instante a instante
a história desse sofrimento
as confidências da casa grande
- onde se via já velha e sozinha -
o sobressalto das ameaças
O mundo girava muito mais leve
ou teria ela aprendido
como se ultrapassa o medo
sentia-se arrastada
não por palavras duras
antes uma espécie de alegria
em alguma parte
quando se perguntava:
«que foi que perdi?»
Com os olhos fechados, calmos
porque não saberia mais a que ligá-los
sentava-se na penumbra
e esta estranha paz
era diante dos infortúnios
o seu único poder
José Tolentino Mendonça
Édipo teve uma filha, e vive no Porto (Ipsilon)
Antígona, a filha de Édipo, é a grande figura da temporada do Teatro Nacional São João. Uma geração e 300 quilómetros depois, a história continua, mas por outros meios, a partir de 26 de Março.
Quando Nuno Carinhas começou a juntar à mesa de uma sala do Teatro Dona Maria II, em Lisboa, os actores com quem vai à Grécia Antiga fazer sangue na primeira "Antígona" da vida do Teatro Nacional São João (TNSJ), o "Rei Édipo" de Jorge Silva Melo já tinha pernas para andar, e andava, cinco andares abaixo, mais perto do palco onde tem vida própria desde ontem. Durante semanas, o Édipo de Jorge Silva Melo e a Antígona de Nuno Carinhas moraram na mesma casa, como pai e filha (que é o que são na realidade, se quisermos levar a ficção a sério). Depois, cada um foi à sua vida.
Antígona, de António Pedro
3.º Velho: [Esta é] a tragédia de quem se recusa a obedecer à lei em nome duma lei que é superior aos homens.
2.º Velho: Que é superior às circunstâncias em que os homens fazem certas leis.
1.º Velho: A tragédia da liberdade.
Antígona, de António Pedro
Dia 16 de Abril vamos ver...
Nuno M Cardoso dirige – numa acção de “formação em acto”, que congregará actores da Casa e alunos do Balleteatro Escola Profissional – uma leitura encenada da “Antígona” de António Pedro, devolvendo-a ao lugar da sua estreia em 1954, no então denominado São João Cine. Sobre esta sua “pirandelliana” revisão da matéria dada, adverte-nos o autor: “Nesta glosa, a Grécia é apenas um pretexto cénico. A acção passa-se, realmente, no palco em que for representada, isto é: na imaginação de cada um”.
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